terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Música em 1910


Recital "CENTENÁRIO DA REPÚBLICA – A Música em 1910 "

A Câmara Municipal de Fafe vai oferecer à comunidade local o recital “Centenário da República – A Música em 1910”, pelo grupo Vox Angelis, que tem lugar no Teatro-Cinema da cidade, na noite (21h30) desta sexta-feira, 29 de Outubro.

Dado o cariz do espectáculo, o mesmo foi inserido no quadro das comemorações do Centenário da Proclamação da República que têm vindo a decorrer em Fafe. Os espectadores interessados podem levantar os ingressos no Posto de Turismo, como habitualmente ou, à hora do espectáculo, no Teatro-Cinema. Naturalmente, que apenas acederá à sala quem se munir do respectivo bilhete.

Neste concerto, são executadas obras de compositores portugueses contemporâneos da Revolução Republicana (homens como Luís de Freitas Branco e Francisco de Lacerda, entre outros), bem como obras compostas precisamente na altura da Instauração da República.

Pretende-se, com isso, fazer recuar o público a 100 anos atrás, através da audição da música que se interpretava naquela época e que muito fala da vivência cultural e, com isso, evocar historicamente os acontecimentos de 1910.

Em palco vão estar sete músicos: os cantores Pedro Miguel Nunes e Maria José Carvalho e os intrumentistas Serguey Arutiunian (1º Violino), Larissa Shomina (2º Violino), Katarzyna Pereira (Viola d’ Arco), Jaroslav Mikus (Violoncelo) e Katherine Fiero (Harpa).

domingo, 17 de outubro de 2010

A proclamação da República em Fafe

Há cem anos atrás, as comunicações não tinham a rapidez de hoje em dia e os acontecimentos repercutiam pelo país a velocidades diferentes.
Tomemos o caso da proclamação da República.
Foi declarada solenemente da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, pelas 11h00 do dia 5 de Outubro. Porém, seria pelo telégrafo – como referem os historiadores – que a boa nova se transmitiria ao país, onde a proclamação ocorreu nos dias imediatos.
No Porto, seria-o no dia 6 de Outubro, assim como em diversas outras cidades, o mesmo sucedendo nos dias imediatos, e até 16.
Em Fafe, a República seria proclamada na tarde de 9 de Outubro, um domingo, juntamente com mais uma dúzia de localidades. Pelas três horas da tarde, a Comissão Municipal Republicana entrou no edifício dos Paços do Concelho (demolido poucos anos depois, que a gravura acima documenta), ao som da “Portuguesa”, tocada por uma banda de música. De imediato, o secretário da administração, Artur Teixeira da Silva e Castro, leu o auto de posse das novas autoridades, do seguinte teor:

"Aos 9 d’outubro de 1910, e por ordem do Governo Provisório da Republica Portuguesa, compareceu n’estes Paços do Concelho, para assumir a gerência do município, o cidadão Snr. José Gabriel Peixoto de Magalhães e Meneses, com a seguinte comissão da sua presidência: Gervásio Domingues de Andrade, Miguel Augusto Alves Ferreira, Bernardino Monteiro, José Augusto Ferraz Costa, Vicente d’Oliveira e Castro, Dr. José Teixeira e Castro Guimarães e Dr. José Summavielle Soares.
Compareceu também o digno vice-presidente da Câmara destituída, Snr. Padre José da Silva e Castro, que conferiu a posse.
O cidadão Snr. José Gabriel Peixoto de Magalhães e Meneses e os restantes membros da Comissão da sua presidência declararam pela sua honra que farão por bem desempenhar as funções em que foram investidos.
Por proposta do presidente foi resolvido que a 1ª sessão se effectuasse na próxima 5ª feira, pela huma hora da tarde, para começar os trabalhos da gerência municipal."
Procedeu-se, seguidamente, á proclamação da Republica da varanda dos Paços do Concelho, e ao arvoramento da bandeira republicana.

A imprensa da época fala de uma transição pacífica do poder municipal, sendo que o monárquico Padre José da Silva e Castro afirmou que, “pessoalmente e com toda a sinceridade acatava do coração a nova forma do governo”.
O futuro se encarregaria de demonstrar a sua falsidade.
Como a sala era pequena e havia imensos populares nas ruas da vila, o Dr. José Summavielle Soares assomou a uma das varandas dos Paços do Concelho e fez a proclamação da República, nos termos seguintes:

"Cidadãos!
Em nome da Comissão que vem de ser investida na administração municipal, cabe-se a honra de proclamar a Republica neste concelho.
E, devo dizer-vos, proclamo-a profundamente comovido, porque vejo enfim realizada a aspiração mais ardente do meu coração de patriota.
Cidadãos:
Para derrubar a ominosa dynastia de Bragança e fazer triumphar a sagrada bandeira da Republica foi preciso verter-se, em combates verdadeiramente épicos, o sangue de muitos portuguezes.
Glorifiquemos esse sangue, abraçando, confiantes, as novas instituições republicanas e empenhando todo o noddo civismo na construcção d’uma Patria nova, dignificada e prospera.
Viva a Republica Portugueza!
Viva a Marinha de Guerra!
Viva o exercito!
Viva o grande, o nobre, o heroico povo de Lisboa!"

As primeiras deliberações da República em Fafe - Oito dias depois, reunia a nova Câmara, recebendo os cumprimentos do último presidente da câmara monárquica, Miguel Gonçalves da Cunha e tomando duas importantes deliberações.
A primeira, teve a ver com a mudança da toponímia da então Vila, sendo aprovada por unanimidade uma proposta do Dr. José Summavielle Soares, no sentido da adopção das seguintes denominações:
Praça da República, para o largo de D. Carlos I (actual Praça 25 de Abril);
Avenida 5 de Outubro, para a Avenida José Luciano de Castro;
Rua Teófilo Braga, para a Rua do Príncipe Real (actual Praça 25 de Abril, sensivelmente entre a Escola Profissional e o começo da Rua Serpa Pinto);
Rua Cândido dos Reis, para a rua D. Maria Pia (actual Rua Major Miguel Ferreira).
Rua Miguel Bombarda, para a rua D. Luís I (actual Rua General Humberto Delgado);
Rua Machado dos Santos, para a Rua D. Pedro V (actual Rua João XXIII);
Rua Francisco Ferrer, para a Travessa D. Pedro V (actual Rua Afonso Costa).
Como se verifica, glorificavam-se a data heróica do 5 de Outubro e a República, através dos seus heróis (Teófilo Braga, velho republicano e sobretudo Machado dos Santos, o “herói da Rotunda”) e os seus mártires (o psiquiatra Miguel Bombarda, assassinado em 3 de Outubro, por um alienado, e o almirante Cândido dos Reis, que se suicidou no próprio dia 5 de Outubro, julgando perdida a revolução…).
Francisco Ferrer era um educador espanhol, fuzilado exactamente um ano antes pelas autoridades monárquicas do país vizinho…
Apenas a Avenida 5 de Outubro mantém a designação de há cem anos atrás, ainda assim vítima de uma alteração ocorrida durante o Estado Novo, quando se chamava Avenida General Carmona…
A segunda deliberação teve a ver com a distribuição dos pelouros dos eleitos:
Presidente, Dr. Gervásio Domingues de Andrade – Secretaria e Policia Municipal;
Vice-presidente, Dr. José Summavielle Soares – Obras e Higiene;
Vogal, Miguel Augusto Alves Ferreira – Águas, Cemitério e Jardim;
Vogal, José Gabriel Peixoto de Magalhães e Meneses – Instrução e Beneficência;
Vogal, José Augusto Ferraz Costa – Mercados, Limpeza e Iluminação;
Vogal, Vicente d’Oliveira e Castro – Matadouro, Açougues e Aferimentos;
Vogal, Bernardino Monteiro – Fazenda e Contabilidade.

Era o começo da “aventura republicana” em Fafe, que teria alguns contornos de interesse, que poderemos vir a contar, neste ano celebrativo do Centenário da sua gloriosa proclamação oficial!
Texto Dr. Artur Coimbra.

domingo, 10 de outubro de 2010

Curso Livre de História Local


Créditos fotográficos Manuel Meira
No âmbito das celebrações do Centenário da República, iniciou no passado dia 7 o Curso Livre de História Local que tem por tema “O concelho de Fafe durante a Primeira República (1910-1926)”, com organização do Núcleo de Artes e Letras de Fafe (NALF) em colaboração com o Município de Fafe.

São responsáveis pelo curso os licenciados em História Artur Ferreira Coimbra (presidente do NALF), Daniel Davide Bastos (Vice-presidente) e Artur Magalhães Leite (associado do NALF).

De assinalar o interesse pela História Local - a iniciativa foi muito bem acolhida e as inscrições abertas foram completamente preenchidas.
O 1.º módulo “As raízes do republicanismo em Fafe”esteve a cargo de Daniel Bastos.
Próximo módulo “A implantação da República em Fafe” a cargo de Artur Coimbra.
O curso decorrerá semanalmente às quintas-feiras, até 18 de Novembro, das 18h:00 às 19h30, no Auditório da Biblioteca Municipal de Fafe.

sábado, 9 de outubro de 2010

5 de Outubro





Créditos fotográficos Manuel Meira
No dia 5 de Outubro celebrou-se o centenário da implantação da República.
No Concelho de Fafe teve lugar nos Paços do Concelho a sessão solene comemorativa. Do programa fizeram parte a alvorada de morteiros pela manhã seguida do hastear da bandeira no edifício municipal com o desfile da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Fafe.
A sessão solene decorreu no Salão Nobre, presidida pelo Dr. Artur Coimbra, e iniciou com a brilhante comunicação do Professor Doutor Norberto Cunha da Universidade do Minho sobre os valores da República.

No programa das comemorações esteve ainda presente a jovem Cláudia Gonçalves, da Escola Secundária de Fafe, com a leitura de um texto sobre os valores herdados da República, que, na voz de um jovem assumem na actualidade uma grande dimensão.

Igualmente a entrega pela jovem Francisca Mariana ao executivo camarário do documento final do projecto Juventude 2010 – 100 anos – 100 ideias para participar assumiu uma grande carga simbólica.

Seguiu-se a intervenção do Presidente da Câmara, Dr. José Ribeiro, centrada na evocação dos valores e do espírito da República herdados e em exercício no concelho de Fafe.
A sessão terminou com a emocionante execução do hino nacional “A Portuguesa” por um quarteto de sopros da Academia de Música José Atalaya acompanhada por todos os presentes.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fafe em 1910 - Outubro

"Fafe em 1910" - n.º 8 (edição alargada) com selecção de notícias publicadas na imprensa local no mês de Outubro do ano de 1910 - já está nas ruas e disponível na Câmara Municipal de Fafe, Biblioteca Municipal, Casa Municipal de Cultura, Museu de Imprensa, Museu das Migrações e das Comunidades, Teatro-Cinema, Posto de Turismo, Juntas de Freguesia, Agrupamentos Escolares e aqui para download.









A imprensa na 1ª República

Publicamos os apontamentos gentilmente cedidos pelo Dr. Artur Coimbra que, segundo as suas palavras na nota final, "serviram de base à breve conferência que tive a honra de fazer no Teatro-Cinema de Fafe, na manhã do passado sábado, no âmbito do Seminário sobre a Imprensa Local e Regional, promovido pelo Gabinete de Imprensa de Guimarães."

A IMPRENSA NA 1ª REPÚBLICA

"A imprensa em Fafe é um projecto que arranca em 1883, com o jornal O Rubro (que não chegou a ser distribuído), mas que denunciava já a tendência republicana, que é patente na acção do inolvidável jornalista João Crisóstomo, o pioneiro do jornalismo em Fafe (fundador também dos Bombeiros Voluntários, em 1890) e que está ligado à criação de jornais locais como o referido Rubro, quando contava apenas 19 anos de idade, o Calvário da Granja, em 1886, a Gazeta de Fafe, em 1889 e o conhecido O Desforço, em 1892, que se assume autenticamente republicano a partir do ano seguinte.
Por altura dos finais do século XIX, Fafe era um município com cerca de 25 000 habitantes. Um município eminentemente rural, iletrado, cristão, monárquico. Por essa altura, aparecem as primeiras grandes indústrias, a Fábrica do Bugio (1873), e a Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (1886). Surge a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Fafe (1890). Com o apoio dos capitais brasileiros, é construído o Jardim do Calvário, de características românticas (1892). Os brasileiros de torna viagem moldam a Vila, com os seus palacetes, os seus investimentos, as suas obras sociais e filantrópicas (Hospital, asilos), a sua intervenção na vida social, politica, económica e cultural local. Até final do século, surge mais de uma dezena de títulos da imprensa local, de curtíssima duração.
Até à proclamação da República, existiram em Fafe cerca de duas dezenas de títulos, divididos pelas duas tendências monárquicas da altura. Uns eram apaniguados do Partido Progressista e outros do Regenerador, que se revezavam na governação nacional e na local. Combatiam-se com o maior vigor e a maior sem cerimónia. Ferozmente, tantas vezes.
Em 5 de Outubro de 1910, quando o município albergava cerca de 30 000 habitantes e a Vila à volta de 5000 habitantes, existiam em Fafe três grandes jornais locais, O Desforço (que duraria até cerca do ano de 2000), o Jornal de Fafe (fundado em 1891), O Povo de Fafe (na sua primeira série), fundado em 1907, a Propaganda Católica (fundada em 1908), bem como uma publicação anual única na região, o Almanach de Fafe, fundado em 1909, de periodicidade anual, repositório de notícias, curiosidades, adágios, imagens, previsões para cada ano, conselhos para a agricultura, etc.
Durante a década e meia (1910-1926) que durou a 1ª República, foram fundadas duas dezenas de títulos, incluindo dois jornais generalistas de referência, ambos lançados em 1912, A Ideia, de tendência monárquica, e Justiça de Fafe, republicano. De destacar, neste período, a criação de um bom número de jornais humorísticos, com textos em prosa e verso e caricaturas de crítica às personagens, políticas e costumes locais. Normalmente “quinzenários humorísticos e literários”, podem referir-se títulos divertidos como A Troça, O Tagarela, Pica Alegre, O Espadarte, O Folião, A Gritaria, A Tesoura ou O Rambóia, alguns deles com mais que uma versão. Curiosamente, em 1919, ano da Monarquia do Norte e da fugaz restauração monárquica, regista-se o aparecimento de sete títulos de imprensa local…
Neste período, manteve-se também fortíssima a luta política entre republicanos e monárquicos, expressa através dos seus órgãos de imprensa, quer por artigos de autores fafenses, quer por transcrições de artigos dos jornais nacionais que fundamentavam os ideários dos periódicos locais.
Nestes anos, impuseram-se jornalistas locais de diversas tendências, sobretudo da área republicana, como Artur Pinto Bastos, Paulino da Cunha, José Manuel Teixeira e Castro e Adolfo Coimbra de Medeiros.
Ao longo de década e meia, foram reportando as obras emblemáticas que se iam sucedendo no concelho, de que são paradigmas a inauguração dos Paços do Concelho, em 1913; a inauguração da Central Hidroeléctrica de Santa Rita, em 5 de Outubro de 1914, uma obra considerada “o esplendor do republicanismo”; a abertura do Mercado do Peixe, em 1922; a inauguração do Teatro-Cinema de Fafe, em 10 de Janeiro de1924 ou a existência da Escola Primária Superior, entre os anos de 1919 e de 1926. Ou as movimentações políticas surgidas em Fafe, como as incursões monárquicas, nos anos de 1911 e 1912 e a instauração da Monarquia do Norte, restauração monárquica vigente durante 25 dias, entre 19 de Janeiro e 13 de Fevereiro de 1919 e que se reflectiu nas instituições locais, desde a autarquia à Misericórdia e Hospital, entre outras.
O conteúdo da maioria dos jornais locais neste período integra, basicamente, o editorial, textos de opinião, a transcrição de opiniões de jornais de referência e de notícias de âmbito nacional, naturalmente informações e curiosidades da vida local, notícias das reuniões da Câmara, espectáculos de teatro e cinema, folhetins romanescos por episódios (uma tradição que vinha já do século XIX), a indicação do preço dos géneros alimentares na feira semanal, notícias familiares: nascimentos (delivrances), casamentos (enlaces) e óbitos (defunções), o movimento familiar referindo as partidas e chegadas para e das praias e, enfim, a publicidade comercial, por exemplo, a paquetes que levavam para o Brasil, a enciclopédias para as famílias, dicionários, remédios, mercearias, entre muitos outros produtos e publicidade institucional, como anúncios oficiais, editais, etc.
Naturalmente, que durante este lapso temporal, os jornais digladiaram-se, sendo notórias e violentas algumas disputas entre jornalistas da nossa praça. Dava um bom apontamento a transcrição de algumas das polémicas mais acesas lançadas nas páginas da imprensa periódica fafense, com uma linguagem que nos faz corar ainda hoje, passado quase um século."
Artur Coimbra
Créditos fotográficos Manuel Meira